Todas as Almas nascem pela metade, algumas passam a vida procurando a parte que lhes faltam, e quase sempre a encontram mais perto do que imagina. Bom. Como diz a TV cultura, “Senta que lá vem História”.
A Mensagem que nunca chegou
De repente o caminho que fizera todos os dias não mais parecia levar a lugar algum, o chão lhe fugia aos pés, os carros e ruas se apresentavam mais ameaçadores do que geralmente pareciam. Não, nada estava diferente do dia anterior, o caminho era o mesmo, as ruas , os carros e as pessoas também, definitivamente nada estava diferente. Pra ser sincero quase nada. Nesta manhã havia ela recebido uma notícia atordoante, destas que fazem as pessoas mais equilibradas perderem toda a noção de tempo e espaço, que tornam um simples ato como atravessar a rua, num exercício de concentração quase impossível de se concluir sem correr grandes riscos.
Interessante como uma simples mensagem pelo celular pode acabar com qualquer controle que supostamente temos sobre nós mesmos. Ainda levando-se em consideração o fato de se tratar do seu futuro ao lado de quem se considera seu grande amor.
Mesmo correndo todos os perigos que este estado de distração provocou, Azaléia ousou ir para o campus universitário, ela queria tirar esta história a limpo. E como queria.
Dias atrás, durante uma de suas noitadas em bares com alguns amigos, ela simplesmente botou para fora tudo o que sentia pelo seu amigo Denis, e falou de todas as noites que sonhava com ele, todos os sinais que mandava e ele nunca percebeu, afinal os homens não são bons com sinais. Enfim, todo o seu amor, até aquele momento, oculto. Entretanto, isso tudo tinha um pequeno complicativo, Ela expôs todo o seu amor por Denis, mas não para Denis. Por algum motivo por nós ignorado, Denis não foi ao bar naquela noite, perdendo assim uma uma fantástica e apaixonante declaração de amor feita para ele.
-Eu preciso falar isso para ele agora. – repetia Azaléia insistentemente.
Nessas horas é que vemos quem são nossos amigos de verdade. Azaléia estava um pouco muito chapada. Então a turma se dividiu em dois blocos e uma pessoa, um dos blocos, a maioria, acharam engraçados os delírios da moça e se divertiam as suas custas. O outro bloco resolveu botar mais gasolina no fogo, tanto que se dispuseram a levar a jovem cambaleante à casa de Denis para que ela pudesse “abrir seu coração para ele”, o que poderia ser um desastre, ela mal se mantinha de pé.
-Por que você não liga para ele, ou manda um SMS pelo celular?
Finalmente, uma voz sensata para acalmar os ânimos. Satisfazia tanto os que queriam ver o circo pegar fogo, quanto os da jovem embriagada e apaixonada, e de quebra, pouparia o rapaz de ser pego de surpresa.
Se para todos aquilo era uma novidade, para Denis era mais ainda. Ele sempre viu Azaléia como bem mais que uma amiga, ela era sua fiel companheira para todas as horas. Ele era talvez a única pessoa que conseguia enxergar Azaléia como ela era, e não como ela fingia ser. Aos olhos de Denis Azaléia era uma pessoa simples, educada, bondosa, capaz de dar sua última bala preferida a quem quer que pedisse. E de fato ela era assim. A mesma pessoa que nos finais de semana na tentativa de estragar um pouco sua vida, embriagava-se e se metia nas mais variadas confusões.
Ela, após muito pensar [se é que naquele estado alguém pensaria], resolveu mandar um SMS com os dizeres: “Nesta foto estou dizendo que te amo”. E enviou o recado esperando que o rapaz não lesse até o amanhecer. Como o seu celular não tocou, Azaléia concluiu que ele não tinha acordado com a mensagem.
“Deu tudo certo, agora é esperar até ele acordar...e a ressaca passar.” – pensou a moça.
O dia seguinte chegou mais rápido do que normalmente chegava, e passou mais rápido ainda, e Denis não ligou para Azaléia. Ele nunca foi do tipo que liga para alguém apenas para falar “oi”. Sempre procurava um bom motivo em uma boa hora para ligar para quem quer que seja e com Azaléia não era diferente.
“Porque ele não me liga?” pensava Azaléia o tempo todo. “Será que ele não recebeu meu recado ou não quis ligar mesmo?”. A moça era pura ansiedade, seus pensamentos que normalmente já eram confusos, se tornavam mais confusos ainda. A dúvida que nunca foi um sentimento freqüente em sua vida agora reinava soberanamente em sua cabeça.
Na segunda-feira seguinte finalmente se encontraram e para o espanto de todos, Denis tratou Azaléia como sempre tratava, como se nada tivesse acontecido. E realmente nada havia acontecido, não para Denis, a mensagem, para o alívio e tristeza de Azaléia, não chegou.
Os dias foram passando, e Azaléia já na esperava mais que a mensagem chegasse, e pudesse causar algum efeito na relação dos dois, pelo menos até aquela manhã de sexta-feira, pois nesta hora chegou uma mensagem de Denis dizendo:
“A SUA MENSAGEM CHEGOU E EU QUERO A MESMA COISA”. E Azaléia, que já estava saído para a faculdade, apressou ainda mais os seus passos para ir de encontro ao seu provável futuro namorado.
“Sentir é estar distraído” me disseram uma vez, hoje compreendo toda a verdade nesta simples frase, Azaléia era naquela manhã pessoa mais distraída do mundo, mal podia contar os metros para chegar ao campus e encontrar com Denis, mesmo assim, um sentimento oposto de medo a fazia reduzir a velocidade da caminhada e por vezes parar, ela simplesmente lutava para não recuar. Aos poucos o rapaz ficava visível para a moça, que ao vê-la foi caminhando ao seu encontro, cautelosamente, cada passo era pensado e repensado, nem muito rápido nem muito devagar, diferentemente de Azaléia que não conseguia pensar em mais nada alem de chegar rápido onde estava o rapaz.
Foram se aproximando pouco a pouco, até que chegaram suficientemente perto para que Azaléia lançasse-se em beijos sobre o rapaz, e foi um longo, demorado e silencioso beijo, um beijo apaixonado, um beijo que esperaram por vários meses, e todos os que testemunharam a angústia da moça naquela última semana não acreditavam que ela tivesse feito isso assim ta subitamente.
Dias depois, Azaléia ficou sabendo que a sua mensagem nunca havia chegado, uma amiga dela, a mesma que disse para ela mandar uma mensagem para Denis, teve a sugestiva idéia falar para o rapaz mandar a uma mensagem daquele jeito, ele ficou sem entender o motivo, mas mesmo assim mandou. Ainda bem... Tem coisas que não precisamos saber...e nem ver.
Alguém por aí quer se declarar para alguém? Não faça isso após beber, você poderá correr o sério risco de não ser levado á sério. Mas eu corri assim mesmo, espero que dê resultados...como espero...
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