E mesmo após todo o final de semana Ton só pensava
naquele momento em que a deixou para trás. Aquele momento que a porta se fechou
no apartamento vazio e escuro de segunda de manhã. Restando apenas uma carta
sobre a mesa e as marcas daquela briga deixada na parede. Marcas que eram mais
profundas no coração do que nas paredes.
Todos
ao redor estavam felizes e se divertindo, era festa em um final de semana de um
feriado prolongado, o que apenas servia para reforçar o estado mental
deplorável em que se encontrava. "Simples, engraçado e romântico".
Essas palavras que outrora fora sua marca agora parece muito distante de sua
realidade “complicada, triste e dolorosa.”
-Espero
que ela esteja melhor que eu. - Pensou ele
enquanto olhava a piscina que reluzia a luz do Sol, mas ele pensou muito alto,
tão alto que ousaram responder.
-Se
ela não estiver melhor, acredito que ela deseje a mesma coisa para você. -
Respondeu uma voz suave, quase infantil fazendo que Ton subitamente saísse de
seus devaneios, e aguçado pela curiosidade, buscasse a origem daquela voz
intrometida.
“Como ela ousa responder meus pensamentos”. Pensou ele
enquanto se virava para encontrar a dona da voz.
-Me
desculpe -disse a jovem sorridente- eu não resisti em não responder já que você
estava falando sozinho há alguns minutos.
-Repara
não, ela é muito entrona, já estamos indo. Vamos embora Camille. - Disse a
amiga da voz.
Na verdade se tratava de duas adolescentes. No máximo
teriam quatorze anos, risonhas e muito enérgicas, enquanto Ton observava seus
comportamentos, as duas discutiam entre si sobre a intromissão na vida alheia.
Com argumentos nada ortodoxos, uma tentava convencer a outra que seu ponto de
vista seria o mais correto. Até que Camille disse:
- Você esta rindo de nós? - E fez uma careta.
Ton
riu, deixando a jovem ainda mais furiosa. Como os adolescentes mudam
rapidamente de humor, parecia que nada mais importava para elas apenas aquele
momento. O resto seriam apenas lembranças, boas ou ruins, mas apenas
lembranças.
-Camille
deixa de ser rude. Moço me desculpe. Minha amiga e muito sem noção, meu nome é
Lara o dela e Camille.
-Não
precisa se preocupar com isso, vocês são muito engraçadas, me desculpe, eu não
me apresentei...
-Eu
sei quem você é. -Interrompeu Camille.
-Você
é o cara do livro que apareceu no jornal.-completou Lara.
-Você
foi em nossa escola mês passado e leu alguns contos, eu achei eles fofos, um
amor. Nem parece que você os escreveu, eles são muito divertidos.
-Camille!
Ton
apenas bufou, ele era um misto de risos e surpresa com a sinceridade da jovem.
Mas ele sabia que no fundo ela estava certa. Ele não era nem sombra do que era há
um mês, principalmente quando palestrou para a nona serie de várias escolas no
Ginásio do Museu. Algo havia se perdido no caminho, onde estava aquela pessoa
iria fazer a vida ficar mais leve, aquela pessoa que encantou aqueles
adolescentes, e disse para eles sempre buscarem ser felizes, não desistir, não
desanimar e sempre buscar enfrentar os problemas de forma simples e com
alegria.
“Não,
eu não menti para eles.” Pensou ele, enquanto as amigas continuavam a discutir
sobre os modos de Camille.
Ton
não tinha percebido, mas estava sorrindo. As jovens perceberam.
-Agora
parece um pouco mais, sorrindo assim fica bem melhor. -disse Lara
-Camille, vamos o seu pai já esta chamando, foi um
prazer te conhecer. Vou te adicionar no face.
-Também
gostei de te conhecer. Como você me disse no shopping mês passado."tudo
o que você pode fazer é ficar bem".
-Então
era você? disse Ton.
-Sim,
era eu. E graças ao que você me disse eu estou bem, por mim e por meu pai, assim
minha mãe poderá descansar. Apenas se nós ficarmos bem. Eu sei disso hoje
porque você me disse.
-Eu
sei porque você está triste. A irmã da Lara é sua vizinha e ela me contou pra
Lara que me contou. Não precisa ficar assim, agente toma conta dela até você
voltar.
As
meninas falavam e tramavam tudo tão rapidamente que Ton não tinha nem tempo de
responder. Mas ele admirava a energia e simplicidade que as moças tratavam a
situação. Todas com seus problemas particulares, mas querendo ajudar a diminuir
o fardo dos outros, ele mesmo era assim, ele lembrara ter aconselhado Camille
aos prantos no shopping um mês atrás, ele se lembra de ter dado quase toda sua
economia para Luana para a cirurgia de sua irmã mais nova Lara. E agora eram
aquelas jovens que o estavam ajudando a aliviar seu fardo.
-Obrigado!
Disse
ele com a voz seria.
-Por
que? Perguntou Camille - Porque eu falei que vou vigiar aquela menina... Você é
algum psicopata?
-CAMILLEEEEE. -gritou Lara enquanto Ton gargalhava da jovem.
-Obrigado
por me ajudar a lembrar de quem eu sou. Tudo que podemos fazer agora é ficar
bem não é?
-É.
Responderam
as duas acenando a cabeça.
-Então
é o que nós vamos fazer.
O
pai de Camille finalmente veio buscar as garotas e ela retirou uma agenda
cheia de recortes, sabe se lá de onde, e pediu um autógrafo. E Ton de bom grado
assinou o pequeno caderno deixou uma dedicatória fechou o caderno e disse que
iria dar um volta e eles partiram cada qual para seu lado.
-O
que ele escreveu Camille?
-Calma
Lara, eu vou ler.
"Lara
e Camille, que seus sonhos sejam belos e seus dias quentes e suas felicidades
eternas. Vocês são a prova viva de que o que se faz sempre volta para nós.
Obrigado por me salvarem hoje.
-Aquele
idiota, porque ele não disse que se lembrava de você e pagou sua cirurgia Lara.
Lara
estava com os olhos encharcados de lagrimas disse tentando sorrir.
-Pelo
menos o meu nome veio primeiro. Aquele idiota. Sempre me faz chorar.
-É
certo chorar pelo motivo certo. Foi o que ele disse amiga.
E
as jovens cheias de energias caminharam em silêncio até que Camille disse.
-Vamos
procurar uns gatinhos.
-Você
consegue estragar qualquer momento com um comentário idiota. O mais bonito é meu.
E
correu na frente.
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