.

.

Uma Voz Rude e Intrometida - Um encontro Inusitado 01


E mesmo após todo o final de semana Ton só pensava naquele momento em que a deixou para trás. Aquele momento que a porta se fechou no apartamento vazio e escuro de segunda de manhã. Restando apenas uma carta sobre a mesa e as marcas daquela briga deixada na parede. Marcas que eram mais profundas no coração do que nas paredes.  

Todos ao redor estavam felizes e se divertindo, era festa em um final de semana de um feriado prolongado, o que apenas servia para reforçar o estado mental deplorável em que se encontrava. "Simples, engraçado e romântico". Essas palavras que outrora fora sua marca agora parece muito distante de sua realidade “complicada, triste e dolorosa.”  

-Espero que ela esteja melhor que eu. - Pensou ele enquanto olhava a piscina que reluzia a luz do Sol, mas ele pensou muito alto, tão alto que ousaram responder. 

-Se ela não estiver melhor, acredito que ela deseje a mesma coisa para você. - Respondeu uma voz suave, quase infantil fazendo que Ton subitamente saísse de seus devaneios, e aguçado pela curiosidade, buscasse a origem daquela voz intrometida.

“Como ela ousa responder meus pensamentos”. Pensou ele enquanto se virava para encontrar a dona da voz. 

-Me desculpe -disse a jovem sorridente- eu não resisti em não responder  que você estava falando sozinho há alguns minutos. 

-Repara não, ela é muito entrona, já estamos indo. Vamos embora Camille. - Disse a amiga da voz.

Na verdade se tratava de duas adolescentes. No máximo teriam quatorze anos, risonhas e muito enérgicas, enquanto Ton observava seus comportamentos, as duas discutiam entre si sobre a intromissão na vida alheia. Com argumentos nada ortodoxos, uma tentava convencer a outra que seu ponto de vista seria o mais correto. Até que Camille disse:

- Você esta rindo de nós? - E fez uma careta. 

Ton riu, deixando a jovem ainda mais furiosa. Como os adolescentes mudam rapidamente de humor, parecia que nada mais importava para elas apenas aquele momento. O resto seriam apenas lembranças, boas ou ruins, mas apenas lembranças.  

-Camille deixa de ser rude. Moço me desculpe. Minha amiga e muito sem noção, meu nome é Lara o dela e Camille.  

-Não precisa se preocupar com isso, vocês são muito engraçadas, me desculpe, eu não me apresentei... 

-Eu sei quem você é. -Interrompeu Camille. 

-Você é o cara do livro que apareceu no jornal.-completou Lara. 

-Você foi em nossa escola mês passado e leu alguns contos, eu achei eles fofos, um amor. Nem parece que você os escreveu, eles são muito divertidos.

-Camille! 

Ton apenas bufou, ele era um misto de risos e surpresa com a sinceridade da jovem. Mas ele sabia que no fundo ela estava certa. Ele não era nem sombra do que era há um mês, principalmente quando palestrou para a nona serie de várias escolas no Ginásio do Museu. Algo havia se perdido no caminho, onde estava aquela pessoa iria fazer a vida ficar mais leve, aquela pessoa que encantou aqueles adolescentes, e disse para eles sempre buscarem ser felizes, não desistir, não desanimar e sempre buscar enfrentar os problemas de forma simples e  com alegria.  

“Não, eu não menti para eles.” Pensou ele, enquanto as amigas continuavam a discutir sobre os modos de Camille. 

Ton não tinha percebido, mas estava sorrindo. As jovens perceberam. 

-Agora parece um pouco mais, sorrindo assim fica bem melhor. -disse Lara

-Camille, vamos o seu pai já esta chamando, foi um prazer te conhecer. Vou te adicionar no face. 

-Também gostei de te conhecer. Como você me disse no shopping mês passado."tudo o que você pode fazer é ficar bem". 

-Então era você? disse Ton. 

-Sim, era eu. E graças ao que você me disse eu estou bem, por mim e por meu pai, assim minha mãe poderá descansar. Apenas se nós ficarmos bem. Eu sei disso hoje porque você me disse. 

-Eu sei porque você está triste. A irmã da Lara é sua vizinha e ela me contou pra Lara que me contou. Não precisa ficar assim, agente toma conta dela até você voltar.

As meninas falavam e tramavam tudo tão rapidamente que Ton não tinha nem tempo de responder. Mas ele admirava a energia e simplicidade que as moças tratavam a situação. Todas com seus problemas particulares, mas querendo ajudar a diminuir o fardo dos outros, ele mesmo era assim, ele lembrara ter aconselhado Camille aos prantos no shopping um mês atrás, ele se lembra de ter dado quase toda sua economia para Luana para a cirurgia de sua irmã mais nova Lara. E agora eram aquelas jovens que o estavam ajudando a aliviar seu fardo.  

-Obrigado!  

Disse ele com a voz seria.

-Por que? Perguntou Camille - Porque eu falei que vou vigiar aquela menina... Você é algum psicopata? 

-CAMILLEEEEE. -gritou Lara enquanto Ton gargalhava da jovem. 

-Obrigado por me ajudar a lembrar de quem eu sou. Tudo que podemos fazer agora é ficar bem não é? 

-É.  

Responderam as duas acenando a cabeça. 

-Então é o que nós vamos fazer. 

O pai de Camille finalmente veio buscar as garotas e ela retirou uma agenda cheia de recortes, sabe se lá de onde, e pediu um autógrafo. E Ton de bom grado assinou o pequeno caderno deixou uma dedicatória fechou o caderno e disse que iria dar um volta e eles partiram cada qual para seu lado.

-O que ele escreveu Camille? 

-Calma Lara, eu vou ler. 

"Lara e Camille, que seus sonhos sejam belos e seus dias quentes e suas felicidades eternas. Vocês são a prova viva de que o que se faz sempre volta para nós. Obrigado por me salvarem hoje.

-Aquele idiota, porque ele não disse que se lembrava de você e pagou sua cirurgia Lara. 

Lara estava com os olhos encharcados de lagrimas  disse tentando sorrir. 

-Pelo menos o meu nome veio primeiro. Aquele idiota. Sempre me faz chorar. 

-É certo chorar pelo motivo certo. Foi o que ele disse amiga. 

E as jovens cheias de energias caminharam em silêncio até que Camille disse. 

-Vamos procurar uns gatinhos. 

-Você consegue estragar qualquer momento com um comentário idiota. O mais bonito é meu. 


E correu na frente. 
Share on Google Plus

Sobre welingto

Welington Hungria, estudou Direito pela Universidade Federal de Uberlandia, trabalha como Treinador Corporativo Pleno, escreve sobre fantasia, cotidiano, e as vezes algo que realmente importe.
    Comente Pelo Blogger
    Comente pelo Face

0 comentários:

Postar um comentário